É só falar em cefalometria que tem muito dentista que sua frio. Ah, aquele monte de pontos, linhas, ângulos e o escambau! Mas, acredite: não é tão complicado assim. O conceito é simples: a análise cefalométrica revela as alterações funcionais (posturais) e estruturais quando em comparação aos padrões normativos estabelecidos. Ou seja: há as “medidas-padrão” e as medidas que você encontrou. A análise cefalométrica compara as duas.
A análise tem como base o desenho anatômico (perfil mole + estruturas ósseas) e o traçado de orientação (pontos, linhas, planos, grandezas lineares e angulares), que são feitos sobre uma telerradiografia em norma lateral do paciente. Isso a 2D, porque já existe a cefalometria 3D. A ideia é circunscrever as estruturas dentoesqueléticas e tegumentares (tecidos moles) para que se possa avaliar o grau de equilíbrio e harmonia dentomaxilofacial. Dessa forma, obtêm-se uma visão da posição espacial dessas estruturas.
Perfil mole:
É a linha que delimita anteriormente os tecidos moles do paciente.

Estruturas anatômicas:
- Sutura frontonasal: o contorno anterior do osso frontal e sua união com os ossos nasais.
- Contorno orbitário: limites posterior e inferior.
- Sela turca (túrcica): no osso esfenóide, base média do crânio.
- Meato acústico externo (ou oliva metálica): corresponde à entrada do ouvido.
- Fissura pterigomaxilar: assemelha-se a uma gota d’água invertida.
- Osso maxilar: compreende o assoalho da fossa nasal (contorno superior), a abóbada palatina (contorno inferior) e o perfil alveolar anterior da maxila (contorno anterior).
- Osso mandibular: contorno posterior, inferior e anterior, incluindo a cabeça da mandíbula, chanfradura sigmóide e apófise coronóide.
- Dentes superiores e inferiores: molares e incisivos centrais.

Pontos cefalométricos:
- S (sela): centro da sela turca.
- Po (pório): ponto mais superior do meato acústico externo.
- N (násio): sutura frontonasal, onde radiograficamente se observa uma suave depressão ou solução de continuidade.
- ENA (espinha nasal anterior): intersecção da linha alveolar anterior com a linha que circunscreve a porção superior da maxila (plano palatino).
- ENP (espinha nasal posterior): ponto mais posterior da maxila no plano palatino.
- A (subespinhal): região mais profunda da concavidade do contorno anterior da maxila.
- B (supramentoniano): região mais profunda da concavidade existente entre a cervical dos incisivos inferiores e o mento.
- P (pogônio): ponto mais anterior do contorno da sínfise.
- Me (mentoniano): ponto mais inferior do contorno da sínfise.
- Go (gônio): bissetriz da tangente do corpo da mandíbula com a tangente do ramo da mandíbula.
- Gn (gnátio): determinado pelo encontro do contorno da sínfise com a bissetriz do ângulo formado pela linha N-P e Go-Me.

Linhas e planos de orientação:
- Linha SN: sofre poucas alterações durante o crescimento, considerada, portanto, estável.
- Linha GoGn (PM): é o plano mandibular.
- Linha SGn
- Plano oclusal (PLO): passa por 2 pontos de referência, o ponto posterior é o limite superior do sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior e o ponto anterior é entre os incisivos.
- Plano palatino (PP): é a linha que passa sobre a ENP e a ENA.

Grandezas cefalométricas angulares:
Embora não seja a minha intenção discutir neste texto a interpretação da análise cefalométrica – até porque este é um texto de introdução à cefalometria para clínicos e radiologistas -, é importante entender os dados obtidos, mesmo que não se pretenda intervir junto ao paciente (deixemos isso para os ortodontistas!). As grandezas cefalométricas angulares são representadas pela intersecção de 2 linhas. Os ângulos encontrados representam características essenciais na formulação e condução do plano de tratamento ortodôntico, como o biotipo facial e a tendência de crescimento facial do paciente.
Ângulo | O que indica | Valor normativo |
SN.Gn | Indica o sentido (horário / anti-horário) de rotação da mandíbula e a tendência vetorial de crescimento | 67° (desvio-padrão de +- 3,5°) |
SN.PM | Altura facial total, desde a base superior do crânio até a parte mais inferior do plano mandibular | 32° (desvio-padrão de +- 4,5°) |
SN.PLO | Posição das maxilas em relação à base do crânio (anteriorizadas, normais, retruídas) | 14° (desvio-padrão de +-4°) |
PLO.PM | Posição da mandíbula em relação à base do crânio (retrognata, normal, prognata) | 18° (desvio- padrão de +- 3°) |
PP.PM | Relação vertical entre as bases ósseas e seus respectivos arcos dentários | 28° (desvio- padrão +- 3°) |
(*) Desvio-padrão: variação aceitável considerando o valor normativo.
O paciente dentro do desvio-padrão será considerado mesofacial
(face e crescimento facial equilibrados)
Biotipos faciais:
- Mesofacial: perfil tipo 1. Tendência vetorial de crescimento equilibrada (+-)
- Braquifacial: perfil tipo 2. Tendência vetorial de crescimento horizontal (-)
- Dolicofacial: perfil tipo 3. Tendência vetorial de crescimento vertical (+)
Avaliação morfológica da base nasal (WITS):
A avaliação WITS investiga o relacionamento ântero-posterior das maxilas em relação à mandíbula. É obtida através de 2 perpendiculares projetadas a partir dos pontos A e B no plano oclusal: linha AO e linha BO. De acordo com a avaliação WITS, a média do relacionamento maxilar para portadores de oclusão normal é de:
- Sexo feminino: WITS = 0 (desvio-padrão +- 2 mm)
- Sexo masculino: WITS = -1 (desvio-padrão +- 2 mm)

Interpretação do cefalograma:
Obedece à seguinte ordem:
- Definição do comportamento vertical da face
- Determinação do posicionamento ântero-posterior das maxilas na composição facial
- Determinação da relação sagital da mandíbula em relação às maxilas
- Avaliação WITS
* * *
Bom, o BÁSICO de cefalometria é isso. Você achava que era mais difícil, não?! 😉
Enfim, acho importante que o dentista clínico conheça pelo menos o básico de cefalometria. E acho mais importante ainda que o especialista em Radiologia tenha esse conhecimento já que, atualmente, com a popularização da Ortodontia, muitas vezes fica a cargo do radiologista o traçado cefalométrico.
DICA: leia online o livro Introdução à Cefalometria Radiográfica. Lá tem mais: cefalograma de Wylie, de Steiner… e por aí vai.
Gostei muito das informações.
Obrigada! 🙂
[…] de ampliação medidas nos três planos do espaço; Ortodontia, para traçado cefalométrico em duas dimensões e três dimensões; Periodontia, para verificar fenestração óssea, altura de crista alveolar e […]
[…] de ampliação medidas nos três planos do espaço; Ortodontia, para traçado cefalométrico em duas dimensões e três dimensões; Periodontia, para verificar fenestração óssea, altura de crista alveolar e […]
[…] – seu avanço, na verdade – é determinada individualmente, após uma série de exames: cefalometria, análise do tipo facial do paciente (braqui, meso ou dolicofacial), saúde das ATMs […]
Esses pontos também servem para análise de Steiner?
Esses e mais alguns. Pontos cefalométricos existem “infinitos”, o que muda é apenas o tipo de análise.